XIII
Me falaram de um deus.
Eu chorava na quietude
dos dias sós.
A irmã morta sorria
o riso pálido dos santos.
Me falaram de um deus.
Deus em branco.
Deus que faz de flores, pedras.
E de pedras, compreensão.
Deus amargurado.
Chora e geme
na quietude dos dias sós
Consolo.
XVII
Todos irão sempre contra ti
porque tens pureza.
Porque o agitado de tuas mãos
é quase nostálgico.
Porque teus olhos
ficarão abertos
para quem os viu
uma única vez.
Todos irão sempre contra ti
porque hás de querer
um mundo novo e diferente.
Porque és estranho
e diferente para o nosso mundo.
És quase um louco
porque não dás atenção
a toda gente.
Dirão que és poeta.
Porque a poesia aparece nos teus gestos
como aparece fé na oração de um crente.
Amaste quase todas as mulheres.
Mas o amor agora é tão difícil.
Não existes para mim.
Mas agitado, febril,
quase doente, és vivo...
Vivo demais para viver conosco.
XVIII
Ah, ternura dos dias
que prometiam alguma cousa.
Ah, noites que esperavam vida.
Disseste que o mundo
dificulta o caminho dos bons
e que pesa tanto nos teus ombros
o estandarte do amor.
Tua vida consumiu-se
num sonho de adolescente.
Teus olhos há muito
não dizem nada
e simulam mistério
quando sorris.
Sabes alguma cousa
além dos homens.
Soubesse ao menos
a eterna escuridão
dos que procuram luz.
XXI
Estou viva.
Mas a morte é música.
A vida, dissonância.
Minha alegria é como
fim de outono porque
tive nas mãos ainda flores
mas flores estriadas de sangue.
Há cristais coloridos
nos teus olhos.
Vida viva nos teus dedos.
Estou morta.
Mas a morte é amor.
Não fiz o crime dos filhos
mas sonhei bonecos quebrados
sonhei bonecos chorando.
Alguns dias mais
e serei música.
Serás ao meu lado
a nota dissonante.
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Somos iguais à morte. Ignorados e puros. E bem depois (o cansaço brotando nas asas) seremos pássaros à procura de um deus.
I
Eu cantarei os humildes os de língua travada e olhos cegos aqueles a quem o amor feriu sem derrubar.
Cantarei o gesto dos que pedem e não alcançam a resignação dos santos o sorriso velado e inútil dos homens conformados.
Eu cantarei os humildes o homem sem amigos o amante sem esperança de retorno.
Cantarei o grito de escuta universal e de mistério nunca desvendado. Serei o caminho a boca aberta os braços em cruz a forma.
Para mim virão os homens desconhecidos
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